Compreendendo os sintomas da organização
“A cultura é a programação coletiva da mente que distingue os membros de um grupo dos de outro” Geert Hofstede
Uma das compreensões mais clássicas de cultura veio por meio dos estudos de Schein (1995), que, metaforicamente, a enxerga como uma cebola com três níveis:
- O núcleo onde se concentram os pressupostos básicos, trata do modo como as coisas são internamente realizadas, a razão pela qual as pessoas se comportam de determinadas formas e o motivo da valorização de determinadas atitudes.
- Estes pressupostos dão forma aos valores da organização, que são incorporados e vivenciados pelos membros e, que se refletem nas estratégias, tomadas de decisão, objetivos, missão e estilos adotados pelos líderes.
- Por fim, na camada mais externa, existem os artefatos visíveis, os sinais explícitos da cultura que contemplam as políticas, estrutura organizacional e o comportamentos percebido dos colaboradores.
Kets de Vries (2014) entende que a cultura é um ”mosaico de pressupostos básicos expressos na forma de crenças, valores e padrões comportamentais característicos”, que são compartilhados internamente e adotados como verdade pelos seus membros num esforço para lidar com as pressões internas e externas da organização.
Assim, falar de cultura é extrapolar o campo do óbvio e do objetivo. É perceber a sutileza entre o individual e o movimento coletivo. Quando olhamos para as coisas que acontecem na organização, faz-se necessário um passeio de helicóptero, um olhar meta-perspectivo, para compreender tal evento com certa distância e com olhar de estranhamento.
Nosso convite é compreender que as atitudes e comportamentos revelados na organização são mais que simples traços de personalidade de cada indivíduo, mas um possível sintoma do grupo. Estudar os movimentos da cultura é notar e analisar os sinais, que muitas vezes passam despercebidos, mas que podem revelar aspectos da essência da empresa. Você já se perguntou o que pode existir por trás dos seguintes sinais?
- Áreas ou pessoas que assumem o papel de bode expiatório;
- Conteúdos trazidos pelos porta-vozes;
- Agitação constante dos colaboradores e áreas;
- Discurso incessante por resultado, muitas vezes a qualquer custo;
- Protelação de algumas decisões importantes;
- Fugas ou ataques de determinados temas;
- Panelinhas que se formam;
- Índices de turnover e absenteísmo;
Enfim, quando olhamos de forma atenta e profunda as principais queixas e comportamentos observados na organização, sem dúvida encontraremos um grande novelo de lã, onde as respostas para desatá-lo não são simples e óbvias. Particularmente, gosto de um modelo que me ajuda a compreender a dinâmica da cultura e buscar entendimento sobre certos sinais evidentes. Este modelo consiste na seguinte estrutura:
Quando falamos em estrutura da empresa, nos referimos às políticas, estratégias de negócio, a missão, visão e os valores que a empresa coloca nos quadros/murais. Vemos também a hierarquia e o layout dos departamentos. Quando olhamos para a dinâmica das pessoas, estamos atentos aos principais comportamentos observados, às queixas relatadas e a forma de comunicação que existe dentro das equipes e entre equipes, além dos principais estilos de liderança.
Já quando olhamos o centro da figura, buscamos observar os rituais internos da organização, como por exemplo as reuniões e festas comemorativas; olhamos os tabus e mitos, que são determinados assuntos e situações que não são tratadas ou superestimadas na organização.
Este modelo nos revela que a cultura acontece a medida em que as pessoas experimentam os aspectos da estrutura da empresa e esta gera certos impactos nas pessoas, as quais agem e se comunicam de determinadas maneiras.
Sob esta ótica, comportamento humano nas organizações é sintoma e, todo sintoma, merece uma investigação cuidadosa e precisa para que possamos compreender as causas reais. Assim sendo, fica aqui um convite, principalmente aos RH’s e aos líderes das empresas: fiquem atentos aos sinais dos diferentes membros da empresa, em seus diferentes níveis. Experimentem distanciar-se da situação e aprofundar sua análise com a visão do helicóptero. Certamente esta postura favorecerá a compreensão dos bastidores da cultura da organização.
Renato Navas é Psicólogo, Especialista em Dinâmicas de Grupos, Coaching, Mentoring e Análise Transacional.