A educação ainda está pautada no modelo resultante da perspectiva pedagógica, onde a ênfase está centrada no papel do professor e não do aluno, cabendo ao aluno o papel de submissão a esse processo. Esse modelo está presente não apenas nas escolas e universidades, mas também nas práticas educativas das organizações. Parafraseando Paulo Freire, vemos um aluno ainda na posição de “mero receptáculo bocejante do conhecimento”.
É muito comum nas organizações a condução de treinamentos onde o instrutor é o centro do processo de aprendizagem, pouco utilizando as experiências das pessoas para a construção do conhecimento. Mais comum ainda nas graduações e pós-graduações…
E qual o impacto da utilização desse modelo para a geração Y, super conectada e com informações disponíveis na palma da mão? Imagine-se agora, sentado em uma sala de aula, para ter um encontro 4 horas sobre Teoria Geral da Administração e o professor acaba de iniciar o primeiro dos 67 slides. Cansativo não? Acredito que você poderia estar fazendo tantas outras coisas nesse exato momento e poderia buscar essa informação mais tarde, em ferramentas de busca na internet, como o Google, por exemplo.
Recentemente me deparei com um post na rede social de uma aluna de uma grande universidade de Santa Catarina, comentando sobre a recente aula que havia assistido na universidade:
Isso demonstra o quanto as pessoas buscam formas de aprendizagem diferenciadas, criativas, pautadas na experimentação e na troca de conhecimento, já que o acesso à informação e ao conhecimento é facilitado.
Em 2012 Melo e Sant`Ana realizaram uma pesquisa com 60 estudantes em Brasília-DF, que passaram pela experiência do uso de metodologias ativas em sala de aula, analisando as vantagens do uso dessas metodologias para a formação profissional. Dentre os seus resultados, o que merece destaque são as habilidades adquiridas a partir da metodologia ativa, apontadas pelos próprios estudantes: autonomia (88%), trabalho em equipe (76%), responsabilidade (73%) e empoderamento (65%). Apontam ainda que esse método possibilita: ser crítico-reflexivo (ação de problematizar a prática), estimula o autoestudo, possibilita construir o conhecimento em equipe, ter uma visão holística do contexto, ter mais contato com a realidade/com a prática profissional e aumenta a retenção do conhecimento.
Então por que não tirarmos o foco do “professor”, para efetivamente alcançar a formação de um sujeito ativo, crítico, reflexivo e transformador? Está mais do que na hora de mudarmos os métodos utilizados em nossas práticas educativas, para utilizar práticas que coloquem os alunos no papel principal de construir e buscar o conhecimento. Métodos voltados à problematização, à busca do conhecimento nas ferramentas de busca e nas redes sociais, ferramentas voltadas à construção de linhas dotempo, histórias em quadrinhos, nuvens de palavras, etc., existem para facilitar essa mudança. Você sabia que inclusive existem ferramentas que utilizam o celular dos alunos para a construção do saber em sala de aula? Saiba mais em: http://edupulses.com.br/
Mas, para que a transformação na forma de ensinar e aprender realmente aconteça, é necessária uma mudança de postura daquele que ensina. Avaliar nossas concepções pedagógicas (crenças, valores) e verificar se nossa postura metodológica está levando à uma aprendizagem significativa é fundamental. Isso deve ser construído a partir de um autoconhecimento, de uma reflexão sobre a prática educativa e sobre nosso papel enquanto facilitador/mediador e não mais de apenas um “professor”.
Michelly Dellecave é sócia da Ágora Entertraining, psicóloga, mestre em Psicologia pela UFSC, professora dos cursos de Psicologia, Relação Públicas e Gestão de Recursos Humanos na UNIVALI (SC), e consultora na área Organizacional e de Políticas Públicas. Michelly tem formação em Dinâmica dos Grupos e se desafia todos os dias na busca de novas metodologias e ferramentas ativas de ensino-aprendizagem.