Quando observamos as notícias, os fatos, as relações que compõem nosso cotidiano, não é difícil perceber os níveis de violência a que estamos expostos todo tempo. Acostumamos a pensar violência como uma alteração brutal, vinculada a formas de destruição física. Quando nos limitamos a esse conceito, ignoramos que se trata de um produto, resultado de uma colheita. Essa mesma violência possivelmente já se fez presente de outras formas mais silenciosas. Uma resposta rude, uma palavra dura, uma ausência de resposta, podem ser atitudes violentas. Reconhecer e identificar essa semente antes que ela produza frutos, tratar da questão antes que ela evolua para uma discussão, tornando inviável o relacionamento de toda uma equipe de trabalho, possibilita um ganho para as relações e o clima de qualquer ambiente de trabalho. Essa é a proposta da CNV – Comunicação Não Violenta.
Em seus estudos sobre o comportamento humano, o psicólogo Marshal Rosemberg consolidou essa ferramenta tendo como principal objetivo construir e estimular relacionamentos saudáveis, estabelecendo conexões profundas e reais com as pessoas. É de aplicação prática que produz resultados imediatos. Porém, como toda ferramenta requer treino para adquirir destreza ao utilizar.
Inicialmente a CNV propõe o abandono de quaisquer interpretações e julgamentos que estamos acostumados a utilizar em nosso cotidiano, sem perceber a carga de violência que essa atitude traz para as relações. É olhar para as pessoas que convivem conosco para além dos rótulos e preconceitos que criamos acerca delas. O próximo convite é deter atenção ao que acontece conosco, ouvir nossos sentimentos e compreender para onde estão apontando. Aceitar que temos sentimentos diante de coisas que nos acontecem, nomeá-los e prestar atenção ao que nossos sentimentos querem nos dizer como sinalizadores que de fato são. Trata-se de uma abertura para equilíbrio e desenvolvimento de inteligência emocional. Antes de responsabilizar o outro pelo que estou sentindo, busco entender que a ação do outro produziu em mim, sentimentos que falam de necessidade minhas, e não do outro.
Passo então a identificar que necessidade está gritando para ser atendida. Quando não damos voz às nossas necessidades, através de pedidos, elas ganham potência e no momento oportuno retornam com força igual ao tamanho da força que empregamos para suprimi-las. Nota-se que o comportamento agressivo geralmente é oriundo de uma pessoa que se encontra alienada ao que acontece consigo mesma e precisa de ajuda para traduzir suas emoções e necessidades. Para estabelecer esse tipo de relação, é preciso olhar além do comportamento agressivo que nos choca, e perceber que diante de nós há um ser humano que não encontrou outra forma de expressar sua frustração, além do comportamento violento.
CNV não é apenas uma técnica, por mais que assim pareça ser, é uma ferramenta que quando a conhecemos, passa a ser um estilo de vida. Aprendemos a respeitar nossas necessidades e as do outro, estabelecendo um lugar de encontro.
Gislâne Martins, psicóloga, pós-graduada em Gestão Estratégica de Pessoas pela PUC-SC e especialista em Leitura e Manejo de Grupos pela Sociedade Brasileira de Dinâmica de Grupos -SBDG. Atualmente é psicoterapeuta, consultora e realiza trabalhos de desenvolvimento de grupos. Tem vivência na área de Gestão de Pessoas, como Gerente de Recursos Humanos, Business Partner, entre outros.